Publicações - 22/01/2016 - 17:54
A gráfica Lito Tipo enviou uma carta a uma série de jornais suspendendo a impressão por tempo indeterminado. A empresa alega falta de matéria-prima, como papel e tinteiros, para continuar a imprimir os jornais, por causa da crise econômica, já que que as taxas alfandegárias e os preços das matérias-primas compradas fora do país são altos. Por este motivo, os semanários "Folha 8", "O Crime", "Manchete" e o "Grandes Notícias", correm o risco de suspender a publicação nos próximos dias.
Em entrevista à DW África, Mariano Brás, o diretor do semanário "O Crime", confirma ter recebido a carta e desconfia que haja motivos políticos por trás desta decisão: “Há indícios de que esta é uma orientação por parte do regime, que se enquadra nos planos das eleições”. Em Angola realizam-se eleições gerais a 17 de agosto de 2017.
Em Angola, além da Lito Tipo, a outra gráfica com capacidade para impressão de jornais é a Damer. Ambas as gráficas pertencem alegadamente a figuras ligadas ao partido no poder, o MPLA, e ao círculo presidencial. Esta situação reforça a suspeita dos jornais de que se trata de manobra política.
O diretor d'"O Crime" disse que tentou recorrer a Damer, que também recusou imprimir o jornal, apresentando os mesmos motivos. Contatou ainda uma pequena gráfica nos arredores de Luanda, mas: “Esses pelo menos foram claros em dizer que não podem imprimir jornais opostos ao Governo. É o que se presume que está a acontecer também com as outras gráficas. Por exemplo, a Damer está a fazer a impressão de outros jornais. Curiosamente são jornais que já foram comprados por elementos do Governo. Só os chamados independentes, pura e simplesmente não têm acesso às gráficas”.
Francisco Kabila, diretor do jornal "Manchete", também confirma ter recebido a carta de rescisão de contrato por parte da gráfica Lito Tipo. Dado o momento político e econômico que o país atravessa e avizinhando-se o escrutínio de 2017, o jornalista não tem dúvidas de que o regime pretende calar de uma vez por todas a imprensa independente: “Este foi mesmo o fim da picada. Não há como sobreviver”. Francisco Kabila alerta para as consequências nefastas que poderá ter esta situação para o processo de democratização do país, que não pode prescindir de uma imprensa independente.
A DW África tentou contatar o responsável da gráfica Lito Tipo, Fernando Campos, mas este não atendeu os nossos telefonemas. Em Angola, além da Lito Tipo, a outra gráfica com capacidade para impressão de jornais é a Damer. Ambas as gráficas pertencem alegadamente a figuras ligadas ao partido no poder, o MPLA, e ao círculo presidencial.
Outra publicação afetada é o jornal "Grandes Notícias". O seu administrador-geral, Valter Daniel, argumenta que, se a medida não tivesse como objetivo pôr fim à circulação de publicações independentes, a gráfica teria optado por uma ação menos drástica, por exemplo, cobrando mais pela impressão para pagar o custo acrescido do material: “Mas eles nem fizeram isso. Apenas, de um dia para o outro, cortaram-nos as pernas. Não sei como nos vamos safar desta”.
A DW África não conseguiu entrar em contato com o diretor do semanário "Folha 8", o jornalista William Tonet. Mas este será outro jornal que poderá ver suspensa a publicação das suas edições.O secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos diz que já está a par da situação. Teixeira Cândido comenta que a democracia não se constrói apenas com um ou dois jornais.
Ango Notícias