Livros - 29/09/2015 - 14:09
Cinco anos atrás o mundo dos livros foi dominado pelo pânico coletivo em torno do futuro incerto da página impressa.
Os leitores migravam para novos aparelhos digitais e as vendas de livros eletrônicos cresciam, subindo 1.259% entre 2008 e 2010 e alarmando os livreiros, que viam os consumidores usando suas lojas para encontrar títulos que mais tarde comprariam on-line. As vendas de livros em papel caíram, livrarias enfrentaram dificuldades em permanecer abertas, e autores e editoras temiam que os e-books, mais baratos, pudessem arrasar seus negócios.
"Os e-books eram como um foguete em ascensão veloz", comentou Len Vlahos, ex-diretor executivo do Book Industry Study Group, organização de pesquisas sem fins lucrativos que acompanha os movimentos do setor de livros. "Praticamente todo o mundo com quem conversávamos achava que o setor dos livros ia seguir o mesmo caminho que a música digital."
Mas o apocalipse digital não chegou a se realizar, ou, pelo menos, não dentro do prazo previsto. Os analistas chegaram a prever que as vendas de e-books superariam as de livros em papel até 2015, mas, em lugar disso, as vendas digitais vêm caindo.
Há sinais de que alguns leitores que aderiram aos e-books estão voltando ao papel ou tornando-se leitores híbridos que alternam entre aparelhos eletrônicos e papel.
As vendas de livros eletrônicos caíram 10% nos primeiros cinco meses do ano, segundo a Association of American Publishers (a associação de editores americanos), que recolhe informações de quase 1.200 casas. No ano passado os livros digitais foram responsáveis por 20% do mercado —mais ou menos a mesma proporção que alguns anos atrás.
A queda de popularidade dos e-books pode ser um indício de que o setor de livros, apesar de não ser imune à reviravolta tecnológica, vai superar o tsunami da tecnologia digital melhor que outros tipos de mídia, como a música e a televisão.
A American Booksellers Association (Associação Americana de Livreiros) contabilizou em 2015 1.712 membros com lojas em 2.227 cidades, contra 1.410 membros e 1.660 cidades, cinco anos atrás.
"O fato de o lado digital do negócio ter parado de crescer nos favorece", comentou Oren Teicher, executivo-chefe da associação. "Com isso, o mercado de livrarias independentes está bem mais forte hoje do que estava havia muito tempo."
Ansiosos por tirar proveito da mudança, editoras estão injetando dinheiro em sua infraestrutura e distribuição de livros em papel. No final do ano passado a Hachette ampliou em 66 mil metros quadrados seu depósito de livros no Indiana, e a Simon & Schuster está acrescentando 60 mil metros quadrados à sua unidade de distribuição em Nova Jersey.
A Penguin Random House investiu quase US$ 100 milhões na ampliação e modernização de seus depósitos e no aprimoramento da distribuição de seus livros. No ano passado a empresa mais que dobrou a área de seu depósito em Crawfordsville, Indiana, acrescentando 111 mil metros quadrados de espaço novo.
"As pessoas falavam do fim dos livros em papel como se fosse apenas questão de tempo, mas o papel será uma parte importante de nosso negócio, mesmo daqui a 50 ou cem anos", comentou Markus Dohle, executivo-chefe da Penguin Random House, que tem quase 250 selos em todo o mundo. Mais de 70% das vendas da companhia nos EUA são de livros de papel.
Fonte: Folha de S.Paulo