-->

A carta de D. Pedro II e as inconfidências de Obama

Artigo - 04/07/2014 - 10:17

Fabio Arruda Mortara*

Na Fundação Maria Luísa e Oscar Americano, no bairro do Morumbi, na cidade de São Paulo, encontra-se ilustrativa coleção de obras de arte, peças e documentos históricos, em especial do Século 19. O interessante acervo permanente abriga-se no museu instalado na antiga casa da família, projetada pelo arquiteto Oswaldo Arthur Bratke em 1950, emoldurada por um bosque constituído por rica variedade de árvores e plantas, do pau-brasil ao café. Um oásis de tranquilidade e contemplação na grande metrópole.


Aos olhos de um gráfico, sempre apaixonado pela química da tinta sobre o papel, destaca-se na exposição uma carta de D. Pedro II, quando tinha nove anos, dirigida a D. Pedro I, que já vivia em Portugal, doente, próximo de sua morte, ocorrida em 1834. Primorosa mensagem, na qual o jovem herdeiro do trono brasileiro manifestava seu carinho, saudade e desejava a recuperação do pai.


Além do valor histórico, é fantástico observar a clareza do conteúdo e o nível de preservação do manuscrito, que tem 180 anos! Exaltem-se, obviamente, o bom trabalho e as condições de conservação propiciados pela fundação, mas se deve reiterar uma virtude inalienável dos documentos gráficos: a durabilidade. Este atributo, aliás, viabilizou a ciência chamada História e permitiu à humanidade conhecer seu passado, documentar sua trajetória, os ciclos de desenvolvimento e as grandes transformações do mundo, da economia, da cultura e da civilização.


Os impressos interagem com os indivíduos por meio de todos os sentidos. São parte viva do ambiente real! Por isso, torna-se estéril a discussão se o virtual os substituirá de modo irremediável e definitivo. Tenho escrito muito e respondido numerosas entrevistas sobre o tema, mas, cada vez que vejo algo como a carta de D. Pedro II, torna-se mais firme minha convicção de que a indústria gráfica é perene.


Também é preciso entender que sua longevidade não está atrelada a eventuais limitações e riscos relativos às mídias digitais e ao universo virtual, expostos em episódios espetacularmente preocupantes, como os casos de espionagem de chefes de Estado, inclusive da presidente Dilma Rousseff, feita pelos Estados Unidos, conforme denunciou Edward Snowden, ex-agente da NSA (Agência de Segurança Nacional).


A indústria gráfica não precisa enfatizar as inconfidências de Barack Obama ou quaisquer outras ocorrências do gênero apenas para mostrar seus diferenciais, possibilidades e virtudes. Porém, é imprescindível reiterar à sociedade a sua importância, significado e caráter sustentável, desfazendo conceitos equivocados que se disseminam no falso dilema contemporâneo da supremacia e predominância do eletrônico.


Por isso, na agenda de nosso setor, um dos itens mais relevantes em 2014 é o d desenvolvimento da campanha mundial Two Sides, já presente na Europa, Estados Unidos, África e Oceania. Objetivo é justamente reverter a falsa ideia de que a comunicação impressa prejudica o meio ambiente. A campanha baseia-se em uma série de ações, com período mínimo de dois anos, voltadas a disseminar informações sobre a sustentabilidade econômica, social e ambiental da cadeia produtiva.
Para isso, conscientiza a sociedade sobre a importância da comunicação impressa na geração de empregos e tributos, na educação, na formação cultural e na economia. Evidencia, ainda, que a produção do papel a partir de florestas plantadas, como em nosso país, contribui para a preservação das matas nativas.


Ao desfazer mitos, a Two Sides restabelece a ética em um cenário no qual a comunicação impressa tem sido injustamente apontada como nociva ao meio ambiente e reafirma o constante compromisso da indústria gráfica com a adoção de processos e tecnologias cada vez mais sustentáveis para a secular arte da tinta sobre o papel. Tão sustentáveis quanto a carta de 180 anos de D. Pedro II.

*Fabio Arruda Mortara é presidente do Sindicato das Indústrias Gráficas no Estado de São Paulo (SINDIGRAF-SP), coordenador do Comitê da Cadeia Produtiva do Papel, Gráfica e Embalagem (Copagrem) da Fiesp e country manager da Two Sides Brasil.

Fonte: Assessoria de Imprensa
Tags:
<< Ver outras notícias