Artigo - 13/02/2014 - 10:00
por Levi Ceregato, presidente da Regional São Paulo da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf-SP)
Nós, gráficos, assim como os personagens fantásticos da escritora alemã Cornélia Funke na trilogia inaugurada com o livro Coração de Tinta, também trazemos em nós a capacidade de materializar histórias, ideias e todo tipo de informações. Diferentemente deles, porém, fazemos isso sem magia. Mas com arte – com arte gráfica. Cada livro, revista, embalagem, rótulo, cartaz que sai das nossas máquinas é uma representação da competência e da capacidade técnica e tecnológica das indústrias e dos profissionais gráficos brasileiros.
Infelizmente, porém, no mesmo mês em que se comemora o Dia do Gráfico (7 de fevereiro), projeções do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) indicam que a indústria gráfica perdeu 5.684 postos de trabalho em 2013. Caso o número se confirme, o setor terá fechado o ano com 218.960 postos de trabalho, uma retração de 3% em relação aos 224.644 empregos registrados em 2012. O segmento editorial concentrou 42% dessas perdas, ou seja, 3.312 postos de trabalho.
Por ironia, a atividade de maior desemprego foi também aquela em que o Brasil mais exportou empregos e tributos. Dito assim, parece bizarro. Mas é o que se constata quando se coloca, lado a lado, a curva de emprego e os números das importações brasileiras de produtos gráficos.
No mesmo período em que perdíamos mais de 3 mil vagas, o País despreocupadamente importava 28 mil toneladas de itens editoriais, 34% do total de produtos gráficos importados, correspondentes a um montante de US$ 185,9 milhões. China (28%), Hong Kong e Estados Unidos (com 15% cada) foram os principais beneficiados pelas compras brasileiras. O quadro piora ao lembrarmos que, em grande parte dessas importações, os produtos entraram no País gozando de isenções de PIS e Cofins, que, até hoje, não foram estendidas à indústria gráfica nacional e oneram em 9,25% os livros e revistas que imprimimos.
Temos competência interna para responder a essa demanda. Só em 2013, investimos perto de US$ 1,2 milhão em máquinas e equipamentos, 80% dos trabalhadores contratados possuem de ensino fundamental completo a ensino médio completo, possuímos um padrão salarial elevado (de R$ 1 mil a R$ 7 mil) e realizamos treinamentos e atualizações constantes dos colaboradores (variando de acordo com o porte, entre 26,9% e 100% das empresas gráficas realizaram treinamentos e reciclagens, em 2013).
No Brasil, mais de 90% das empresas gráficas têm até 19 funcionários. Os comprometimentos de competitividade atingem igualmente trabalhadores e empresários. Recuperar a isonomia tributária na área editorial, pela adoção de alíquota zero de PIS e Cofins na confecção de livros e revistas, e a adoção de margem de preferência nas compras públicas de cadernos e livros nacionais são bandeiras que podem (e devem) ser compartilhadas por todos aqueles que, desde sempre, já partilham da mágica realizadora de um coração de tinta.