Mercado Gráfico - 27/04/2020 - 14:45
Nesta edição a coluna Arquivo Aberto conversa com Felipe Salles Ferreira, diretor das áreas Comercial e Marketing da Macron. Felipe tem 34 anos, é graduado em Administração com ênfase em Marketing pela ESPM, Gestão da Inovação pela Fundação Dom Cabral, tem pós-graduação em Gestão Inovadora pelo SENAI e MBA em Finanças pelo Insper (SP). Atuou durante 6 anos no setor automobilístico Toyota) antes de começar no ramo gráfico, na Macron. Foi o responsável pela definição da nova missão das empresas - "oferecer soluções inteligentes em embalagens". Em 2010, fez uma parceria com a empresa alemã Gradient System Integration e criou uma representação dos sistemas de visão Prova de Pixel e Prova de Texto para as Américas e Participou do lançamento da realidade aumentada nas embalagens cartonadas, fruto da parceria com o Massfar. Atualmente Felipe é diretor setorial de Embalagens da ABIGRAF-SP.
Abigraf: Estamos vivendo um momento histórico, com a Pandemia de Covid-19. Qual sua visão sobre a atuação da ABIGRAF no auxílio aos empresários durante essa crise?
Felipe: O momento do Covid-19 é extremamente delicado e novo para todo o mundo. O Brasil é um país de uma economia industrial recente, onde houve diversas dificuldades de origem política, mas enfrenta agora o maior desafio de sua história por conta desse momento tão restritivo. O planejamento de todas as empresas teve que ser redefinido e a previsão de demanda continua sendo a grande incógnita para os empresários brasileiros. A ABIGRAF está fornecendo apoio aos empresários, sendo a "voz" do segmento na busca de benefícios públicos municipais, estaduais e federais e fornecendo suporte e auxílio aos empresários do setor gráfico. A entidade tem nos abastecido com informações relevantes desde o início da crise.
A: Como você avalia o papel das entidades de classe na vida das empresas? A ABIGRAF cumpre esse papel?
Felipe: O principal papel das entidades de classe é defender seus associados e “exibi-los” ao mercado. Para que esse objetivo seja ativado em sua plenitude, a ABIGRAF estimula o engajamento e a participação assídua de seus associados. Atualmente, o grande desafio da ABIGRAF é a participação do empresário gráfico na instituição, que por sua vez deve continuar oferecendo temas de interesse e que sejam úteis para todos os seus associados.
A: O setor de embalagens é talvez o único do ramo gráfico que não está sofrendo intensamente os impactos da pandemia. Mesmo assim, existem gargalos e demandas do setor que sempre incomodam os empresários. Quais são?
Felipe: Atualmente, o mercado gráfico como um todo tem uma oferta muito superior à demanda. Mesmo no segmento de embalagens sofremos com este problema. A quantidade de gráficas que produzem embalagens no Brasil é muito superior à atual demanda e isso gera alta concorrência no setor, que muitas vezes utiliza as margens de lucro para competir. Além disso, existe uma concentração no fornecimento de material prima (papel cartão), dificultando ainda mais a negociação e a flexibilização para os empresários gráficos. O fornecimento de papel cartão no brasil está concentrado em apenas 4 grandes “players” nacionais, que detêm mais de 90% de toda a demanda deste produto no país.
A: Você é o mais jovem dos diretores da ABIGRAF - SP. De onde vem essa vontade de participar do mercado?
Felipe: A indústria gráfica brasileira é composta em sua maioria por empresas de porte pequeno e de origem familiar. Os negócios gráficos passam do pai para o filho e hoje já temos no país indústrias que são centenárias e os negócios estão na sua terceira ou quarta geração. Sou a 4ª geração de operações e tenho contato com alguns sucessores da indústria gráfica. Meu interesse na participação na associação é para tentar alterar o estigma de que quem participa do mercado de forma institucional tem mais idade e já está distante da operação. Gostaria de ter a participação de todos os sucessores nos grupos de trabalho para tornar a instituição ainda mais forte.
A: Voltando a uma pandemia: qual é sua visão sobre a polarização que há hoje no Brasil, onde tudo é politizado em uma espécie de Fla x Flu das opiniões?
Felipe: A polarização que existe no Brasil se dá muito à nossa cultura. O brasileiro não sabe ser ponderado e avaliar os pontos positivos e negativos de um posicionamento político. Uma grande verdade é que temos que pensar em "saúde" da nossa população e isso envolve configurações que estimulem a economia, mas resguardando a proteção dos cidadãos. A melhor posição é um equilíbrio entre a liberação da economia e o controle da propagação da pandemia do Covid-19.
A: Que mensagem você gostaria de passar para os jovens que pensam em entrar no ramo gráfico, seja na área operacional, comercial ou como empreendedores?
Felipe: O futuro do mercado gráfico está na mão dos jovens sucessores dessa indústria que já é centenária. Temos um futuro promissor no Brasil, visto que o nosso mercado consumidor tem uma forte projeção de consumo para as próximas décadas. A união do setor é muito importante para que você consiga passar por este momento difícil aprendendo com ele para reinventar o nosso futuro. O mercado gráfico é tradicional e o modelo de negócio precisa ser atualizado para navegar rumo ao sucesso. Os jovens são essenciais para contribuir com esta mudança.