Mercado Gráfico - 28/01/2021 - 11:18
Nessa edição do Impressões.com a coluna Arquivo Aberto conversa com o diretor de Interiorização da ABIGRAF–SP, Ricardo Carrijo. Aos 64 anos, ele é um dos diretores mais ativos da entidade, onde também integra os conselhos Fiscal e Consultivo, na área de sustentabilidade. Carrijo é casado, tem dois filhos e “uma netinha linda”, a Gabriela, que tem 1 ano de idade. O filho mais velho, Gustavo, seguiu os passos do pai e também atua no ramo gráfico.
Gerente de relações institucionais da Tilibra Produtos de Papelaria, Carrijo é economista e administrador de empresas, especialista em Gestão Estratégica de Negócios pela FGV RJ e instrutor internacional especializado em Manutenção Produtiva Total (TPM) pelo Japan Plant Institute of Maintenance, em Santiago, no Chile. Tem mestrado em Administração e Doutorado em Engenharia de Produção pela UNIMEP – Universidade Metodista de Piracicaba. Também é professor titular do Centro Universitário Bauru – ITE e professor convidado em cursos de Especialização da UNESP – Bauru.
ABIGRAF: Como foi sua trajetória profissional? Quando você soube que as artes gráficas fariam, definitivamente, parte da sua vida?
Carrijo: Iniciei minha carreira profissional na Tilibra – Produtos de Papelaria, em 1974, aos 17 anos, como estagiário na área comercial. Enquanto fazia a minha primeira Faculdade (Ciências Econômicas), fui efetivado na área de Vendas da empresa. Ao terminar o curso superior, tive uma breve passagem em Londres para assimilar um pouco de inglês e vivenciar um pouco de cultura europeia.
Ao retornar para o Brasil assumi, ainda muito jovem, o Departamento de Desenvolvimento de Produtos da Tilibra – com a responsabilidade de gerenciar uma pequena equipe de criação de capas de cadernos e a responsabilidade pelo setor de pré-impressão e laboratórios (na época ainda eram fotolitos e os primeiros equipamentos de fotocomposição). Naquele momento, me apaixonei ainda mais pelos produtos de papelaria e mergulhei de vez no mundo dos produtos de papel e da indústria gráfica.
O setor gráfico acompanha minha família há algumas gerações. Meu saudoso pai também trabalhou na Tilibra no final de sua carreira, nos anos 70 e minha tia avó Carmem foi casada com o Sr. João Batista Martins Coube – fundador da empresa.
Na Tilibra, antes de ser gerente de Relações Institucionais, atuei em diversas áreas, como Vendas, Desenvolvimento de Produtos, Marketing, Varejo, PCP, Produção, Qualidade, Segurança e Meio Ambiente, por isso consegui formar uma ampla visão do funcionamento de uma indústria gráfica.
A: Quem foi, ou foram, os seus maiores exemplos, ou mentores, na Indústria Gráfica?
Carrijo: Dirigentes da Tilibra e diversos líderes setoriais como Fernando Pini, Max Scharappe, Alfred Plogger, Henrique Coube, Adolpho Cyriaco, Fabio Mortara e Levi Ceregato são fontes de inspiração. Sempre admirei quem se dispõe a trabalhar voluntariamente pelo coletivo do setor gráfico.
Sem dúvidas, os quatro filhos da segunda geração da família Coube com quem trabalhei diretamente no final dos anos 70 (Henrique, Sérvio, Edmundo e Ruben) foram grandes exemplos inspiradores de empreendedorismo e de trabalho. Ter convivido e compartilhado com a segunda e a terceira geração da família Coube na direção da empresa muito me ajudou no desenvolvimento profissional. Lamentavelmente, no início dos anos 80, em apenas um ano, 3 dos filhos do Sr. João Coube faleceram. A partir daí, a convivência com a terceira geração, outra grande oportunidade de aprendizagem, pois a Tilibra começou a se internacionalizar, com a expansão de suas atividades na América do Sul e com exportações para os Estados Unidos.
Em 2004, quando a empresa deixou de ser familiar e passou para o controle societário do grupo norte-americano Mead, tive outros dois grandes mentores nesta fase: Joe Forgiano, o primeiro presidente aqui no Brasil e depois Rubens Passos – que atualmente ocupa a vice-presidência do Grupo ACCO para a América Latina. Sidnei Bergamaschi, atual presidente do grupo ACCO aqui no Brasil, é outra jovem liderança inspiradora, pois começou sua trajetória na empresa muito cedo, trabalhamos juntos e hoje responde e lidera com muita competência as diversas empresas e marcas do grupo aqui no Brasil (Tilibra / Foroni e Grafon´s).
A: Como começou a sua história na ABIGRAF?
Carrijo: Aconteceu no final dos anos 90, através da ABTG, quando fui convidado para participar de um grupo de estudos da ONS – Organização de Normalização Setorial. Lá conheci profissionais que de forma voluntária se dedicaram ao desenvolvimento da indústria gráfica. Pessoas competentes e íntegras como como o Sr. Alberto Foroni, o Sr. Moacir, da Gráfica São Domingos, o Ivan Bignardi da Jandaia , o Prof. Élcio de Souza, atual Diretor do Senai Theoblado De Nigris, Bruno Mortara, Profa. Dra. Maria Luiza Otero, do IPT e a Aparecida Stuchi – uma batalhadora incansável e que sempre foi um dos pilares da ABTG. Este grupo de profissionais voluntários foi responsável por criar em conjunto com a ABNT, as primeiras normas setoriais da indústria gráfica, a ONS 27, que estabelece os requisitos mínimos de especificação e qualidade para produtos gráficos como cadernos, agendas, livros e papel almaço, que vigoram até hoje aqui no Brasil. Também participei da criação da Norma Brasileira de Segurança de Artigos Escolares a NBR 15.236, publicada em 2010. Me orgulho de ter ajudado a construir estes marcos importantes para o nosso setor e de ter feito parte daquelas equipes de normalização, cujo trabalho ajudou a eliminar toxicidade de tintas, ampliar a segurança dos consumidores, especialmente das crianças e estudantes e melhorar a produtividade e a competitividade da indústria gráfica brasileira.
A: Como o senhor avalia o papel das entidades de classe na vida das empresas? A ABIGRAF cumpre esse papel?
Carrijo: As entidades têm um papel muito importante no sentido de elaborar pleitos setoriais junto as esferas governamentais, nos representar nas relações sindicais e trabalhistas e também defender os interesses do setor gráfico brasileiro. Além disso, o papel orientativo das entidades para os associados sempre foi fundamental em questões trabalhistas, tributárias e mais recentemente em questões ambientais. A ABIGRAF Nacional, a ABIGRAF - SP e o SINDGRAF- SP têm desempenhado de forma efetiva essa missão.
A: Como o senhor avalia o processo de interiorização da ABIGRAF?
Carrijo: A ABIGRAF sempre concentrou muito as suas atividades na capital, devido a localização da sua sede e da participação de empresários paulistanos em sua direção. Porém, nos últimos anos, juntamente com os companheiros da seccional Ribeirão Preto e com os gráficos do ABC e da região central do estado (Bauru e Jaú), esta participação do interior na direção da entidade vem crescendo e se fortalecendo.
Ainda há muito o que ser feito para expandir as atividades da ABIGRAF no interior paulista. Na região da Seccional Bauru, a criação do Prêmio Regional de Excelência Gráfica Vinícius Viotto Coube, que está em sua nona edição anual e tem atraído cada vez mais gráficas da região centro oeste de São Paulo, foi fundamental para fortalecer a entidade no interior e o incentivo agora é ainda maior, pois os vencedores têm inscrição garantida no Prêmio Paulista Luiz Metzler.
Não podemos esquecer da importância das inúmeras parcerias que fizemos com as escolas SENAI de Bauru e Barueri, que têm apoiado todas as iniciativas da ABIGRAF – SP e suas seccionais no sentido de absorver novas tecnologias gráficas, desenvolver recursos humanos e disseminar conhecimento.
O interior de São Paulo é muito pujante e representa o segundo mercado em termos de potencial econômico do Brasil, ficando atrás apenas do mercado da capital paulista. Acredito que a tendência de descentralização urbana provocada pela pandemia vai fortalecer ainda mais as cidades do interior, por isso é fundamental continuarmos a prestigiar nossas seccionais, fazendo com que nossos associados em todo o estado também sejam mais fortes.
A: Qual sua visão sobre a atuação da ABIGRAF no auxílio aos empresários durante a pandemia?
Carrijo: A pandemia acabou trazendo uma oportunidade de aproximação entre os empresários e a entidade, numa relação que se tornou praticamente sem fronteiras por conta das reuniões virtuais. E faço questão de parabenizar a diretoria da ABIGRAF Nacional e da ABIGRAF–SP, em especial às equipes de retaguarda lideradas pelo Wagner Silva, que fizeram muito com pouco e deram um show de competência e produtividade, com orientação permanente aos associados nas questões trabalhistas, tributárias e ambientais que surgiram durante a pandemia e puderam ser esclarecidas por meio das dezenas de comunicados emitidos e reuniões virtuais realizadas desde março do ano passado.
Além desses encontros, a ABIGRAF também possibilitou aos empresários gráficos de todo o país acesso fácil a conteúdos muito relevantes, que antes eram oferecidos apenas de forma presencial. Tudo isso graças ao esforço incansável da equipe de Relações com o Mercado da ABIGRAF, comandada pelo Rogerio Camilo, que apoiaram as seccionais e fizeram acontecer todos os cursos, encontros e palestras, que contaram com milhares de participantes de todas as regiões do Brasil e de países como Estados Unidos, Portugal e Espanha, sempre com o apoio e a participação fundamental de parceiros do calibre do SENAI e da ABTG.
A: Quais as mudanças mais profundas que a pandemia trouxe na sua vida pessoal? E no ambiente corporativo?
Carrijo: Aprendi a valorizar mais o tempo com a minha família. E também tive que me adaptar aos novos recursos tecnológicos muito rapidamente, embora ainda haja muito o que aprender. Eu perdia muito tempo em deslocamentos em viagens e hoje tenho uma produtividade muito maior por conta da tecnologia.
Mas a marca mais profunda dessa pandemia foi a lamentável perda de diversos amigos, como os inesquecíveis Umberto Gianobile e Tom Zé, da ABIGRAF, dois entre os milhares de brasileiros que perderam a luta para a COVID-19.
A: Na sua opinião, como será o “novo normal” das empresas gráficas? Quais as mudanças que serão percebidas primeiro?
Carrijo: O “novo normal” vai exigir novos conhecimentos, mais respeito às questões ambientais e a necessidade de um mundo mais centrado no ser humano e na conservação do planeta. As gráficas e todo o nosso setor já estão se reinventando, criando novos produtos, adotando novas tecnologias e dando um show de adaptação.
A: O senhor considera que a exacerbação política já extrapolou os limites das redes sociais e das conversar informais e invadiu o ambiente de negócios? Essa polarização causa prejuízos?
Carrijo: Sem dúvida (causa prejuízos). Os políticos precisam esquecer as eleições futuras e pensar mais no sofrimento presente da população no dia a dia. Temos um ambiente econômico, social e ambiental totalmente desorganizado e muitos políticos somente preocupados em estar presentes nas redes sociais. Nem bem acaba uma eleição e o político brasileiro já começa a pensar na próxima. Isso me parece um apego excessivo ao poder e uma tremenda falta de sensibilidade para com os reais problemas que o país enfrenta. É uma constante caça de votos para garantir a sobrevivência política no próximo pleito eleitoral. Acredito que a proibição de reeleição tanto para o Executivo quanto para o Legislativo ajudaria muito a melhorar o Brasil.
Precisamos que os políticos pensem e ajam para fazer as reformas Tributária e Administrativa, para acabar com os privilégios para algumas categorias, para investir com qualidade na saúde e, principalmente, na educação, para construirmos um país mais justo, equilibrado e solidário e que consuma mais livros, cadernos e agendas.
A: Que mensagem você gostaria de passar para os jovens que pensam em entrar no ramo gráfico, seja na área operacional, comercial ou como empreendedores?
Carrijo: Que os jovens se preparem adequadamente, estudando e cursando as excelentes opções de formação profissional que o SENAI oferece. Que estejam conscientes de que sucesso só vem antes de trabalho nos dicionários da língua portuguesa. E que se trabalharem duro, com integridade, respeito e ética, os jovens brasileiros que escolherem o setor gráfico podem ter um futuro brilhante e promissor.