-->

ARQUIVO ABERTO COM JULIANA GONÇALVES

Mercado Gráfico - 12/04/2021 - 15:38

A entrevistada desta edição da coluna Arquivo Aberto é Juliana Gonçalves, diretora de Operações da Gonçalves, uma das maiores gráficas do país, com plantas em Cajamar, na grande São Paulo e no México, além de escritório e centro de distribuição em Manaus. Juliana divide seu tempo entre a rotina na Gonçalves, os dois filhos, de 7 e 11 anos, o conselho do Instituto Criança é Vida e a direção de Marketing do SINDIGRAF-SP. Formada em Administração de Empresas pelo Insper e pós-graduada em Gerenciamento de Projetos pela FGV, Juliana conta que não pensava em trabalhar na empresa da família. Recém formada, fez as malas e partiu para Vitória, no Espírito Santo, como trainee da antiga siderúrgica CST, atualmente ArcelorMittal. Foram quatro anos morando perto do mar, num ambiente de trabalho desafiador e agradável, com plano de carreira bem traçado e qualidade de vida. Até que o telefone tocou... 

Impressões.com: Você aceitou o convite do seu pai (Paulo Gonçalves, presidente do Grupo Gonçalves) na hora? Como foi essa “negociação”?
Juliana Gonçalves: Inicialmente eu não queria sair de Vitória, estava completamente integrada ao trabalho e à vida social. Um pedido do próprio pai pesa bastante, mas aceitá-lo foi uma decisão conjunta. Eu e meu namorado decidimos tudo de uma vez: mudamos de emprego, de cidade e de estado civil e recomeçamos aqui em São Paulo. E por incrível que pareça ele, que é capixaba, se adaptou muito mais rápido do que eu. 

Impressões.com: Como foi para você enfrentar um ambiente de trabalho predominantemente masculino e, mais ainda, atuando na área industrial?
Juliana Gonçalves:
Percebo muitas atitudes que não me agradam, tanto dentro da empresa quanto no mercado gráfico em geral. É realmente um ambiente com poucas oportunidades para as mulheres. Tenho feito um esforço grande para mudar isso, mas é um trabalho a longo prazo. Mesmo querendo contratar algumas mulheres para a área produtiva, ainda é extremamente difícil encontrar profissionais qualificadas para essas áreas. Isso porque nunca existiram vagas assim no mercado. Estamos iniciando treinamentos para abrir oportunidades para que mulheres não apenas trabalhem na área produtiva, mas também operem qualquer tipo de máquina. 

I: Como a empresa que você dirige lida com a questão da desigualdade salarial entre homens e mulheres? A Gonçalves promove alguma ação específica no sentido de promover a igualdade e o respeito com as mulheres?
Juliana Gonçalves: Sim. Acabamos de lançar um programa de diversidade, onde a primeira e mais ousada de nossas metas é a igualdade de gênero. Queremos aumentar significativamente o número de mulheres na produção, e não apenas nas áreas de acabamento, o que é mais comum atualmente. 

I: Estamos vivendo um momento histórico, com a Pandemia de COVID-19. Qual sua visão sobre a atuação da ABIGRAF e do SINDIGRAF-SP no auxílio aos empresários durante essa crise?
Juliana Gonçalves: O momento é desafiador para todos. São muitas as incertezas e angústias e nossas associações têm sido fundamentais nesse momento. A ABIGRAF-SP e o SINDIGRAF-SP vêm desde o início da pandemia realizando pleitos junto aos órgãos governamentais, apoiando as empresas com informações relevantes nas áreas trabalhista e tributária, promovendo reuniões periódicas de troca de informações do setor, divulgação de dados econômicos e discussão de tendências e novas oportunidades. 

I: Como você avalia o papel das entidades de classe na vida das empresas? A ABIGRAF cumpre esse papel?
Juliana Gonçalves:
É fundamental para as empresas ter uma entidade que as represente. Dificilmente conseguimos alguma mudança sozinhos, e o papel dessas entidades é justamente representar os empresários independentemente do tamanho que suas empresas possuam, de forma a ter um apelo mais forte junto a outros órgãos – de governo e da sociedade civil. Além disso, prover o mercado com informações tanto de setor quanto de mercado é fundamental para a tomada de decisão das empresas. E isso nossas entidades têm cumprido com muito sucesso.

I: De onde vem essa vontade de participar das atividades associativas do SINDIGRAF-SP?
Juliana Gonçalves:
Acho que é papel de todos nós, como cidadãos ou como empresários, participar e colaborar para a melhoria não apenas do nosso setor e do nosso negócio, mas também da sociedade como um todo. Como líderes, temos que fomentar esse engajamento para construir um futuro melhor para todos. 

I: Como os jovens empresários podem contribuir com o bom ambiente de negócios? Você considera a participação nas atividades das entidades de classe o melhor caminho?
Juliana Gonçalves:
É um bom caminho, sem dúvida, mas não o único. Promover um bom relacionamento com todos os stakeholders, com respeito e boas atitudes, na minha visão, também é fundamental. Uma competição ética faz com que o mercado seja mais saudável. Acredito numa visão moderna de mercado, mais colaborativa. A concorrência acirrada acaba diminuindo o valor do setor como um todo, e isso não é bom para ninguém. 

I: O setor de embalagens é talvez o que esteja sofrendo os menores impactos da pandemia. Mesmo assim, existem gargalos e demandas do setor que sempre incomodam os empresários. Quais são?
Juliana Gonçalves:
Nesse momento de pandemia os maiores desafios têm sido a falta de insumos e aumento de preços de diversas matérias-primas. Com a pandemia, houve um desequilíbrio enorme de fornecimento de diversos produtos, como caixas de papelão, papel-cartão, frete, vernizes, etc. E isso acontece não apenas no Brasil, mas no mundo todo. Por aqui ainda há o agravante da variação do dólar, que somado às altas de preços globais, tem impactado muito os custos. O problema é que muitas vezes não conseguimos repassar aos nossos clientes todo esse acréscimo que tivemos nos custos.

I: Ao contrário de boa parte das empresas, a Gonçalves fez investimentos importantes durante a pandemia. Qual é a visão da empresa nesse momento de incertezas em relação a como será o futuro, quando todos estiverem vacinados?
Juliana Gonçalves:
Nós sempre acreditamos que deveríamos estar preparados para a retomada da economia. Por mais caótica que pareça a situação, mais cedo ou mais tarde as coisas se normalizam e quem estiver preparado acaba saindo na frente. Nossa frase escolhida para o ano de 2020 foi “O pessimista reclama do vento. O otimista espera que ele mude. O sábio ajusta as velas” (John Maxwell). Foi o que fizemos. Nossa visão é que o mercado de embalagens ainda tem espaço para crescimento e isso deve ocorrer nos próximos anos. Talvez tenhamos ainda alguns períodos difíceis, pelo fato de a economia ter sofrido muito. Mas a médio prazo acreditamos que teremos boas oportunidades.

I: Além do Brasil, a Gonçalves também atua no México com uma grande planta industrial. Como você avalia a atuação geral dos governos dos dois países em relação à pandemia?
Juliana Gonçalves:
O México é um país muito semelhante ao Brasil, com um povo caloroso e acolhedor, desigualdades e dificuldades com política, corrupção, pobreza etc. Em relação à gestão da pandemia, estamos enfrentando o pior momento aqui no Brasil. Lá a situação atual é um pouco melhor, mas as dificuldades para vacinação são as mesmas. Assim como aqui, não houve grande apoio aos empresários ou trabalhadores. Mas na Gonçalves, aqui e no México, temos adotado todos os protocolos de segurança e acolhido os funcionários e seus familiares que precisem de amparo.

I: A polarização política que acontece hoje no Brasil atrapalha o ambiente de negócios?
Juliana Gonçalves:
Sim, atrapalha bastante porque muitas das incertezas e da insegurança gerada acabam afetando a economia, aumentando o risco, e prejudicando os resultados das empresas. Infelizmente ainda há muita burocracia, excesso de impostos, insegurança jurídica e problemas trabalhistas que acabam afetando demais a saúde das empresas. E na minha visão, essa polarização faz com que os governantes se preocupem muito mais em fazer política do que em realmente focar nos problemas que deveriam resolver. 

I: Que mensagem você gostaria de passar para os jovens que pensam em entrar no ramo gráfico, seja na área operacional, comercial ou como empreendedores?
Juliana Gonçalves:
O ramo gráfico é apaixonante, principalmente o setor de embalagens. É muito gratificante saber que lidamos com um produto sustentável, que protege, informa e principalmente embeleza os produtos mais diversos. Para alguns pode parecer algo simples, mas quando se entende a tecnologia por trás de uma embalagem, as possibilidades de design, a preocupação com segurança e outros atributos, é realmente surpreendente. Para os jovens é ainda mais desafiador. Por mais que seja uma indústria tradicional, a indústria de embalagens vem evoluindo bastante em acabamentos, tecnologia e soluções sustentáveis. Cada vez mais vejo jovens preocupados com o meio ambiente e alguns buscando trabalhar por uma causa ou propósito. Nesse sentindo as gráficas possuem um produto com um grande potencial de substituir boa parte do que hoje é produzido em plástico, principalmente quando falamos do plástico de uso único, que já vêm sendo proibido em diversos ramos.

Fonte:
Tags:
<< Ver outras notícias