Copa da virada
Artigo - 03/07/2014 - 06:57
Levi Ceregato*
A população brasileira demonstra que não mistura mais futebol com
política, contrariando teses anacrônicas, que floresceram sobretudo na
Copa do Mundo de 1970, quando se vinculou a imagem da Seleção ao regime
militar vigente. Cestas básicas e circo não subjugam mais consciências e
votos. Parece que estamos diante de uma transformação histórica
importante.
Por conta disso, a sociedade deixa claras as suas reivindicações e
descontentamentos, sem abrir mão da paixão pelo futebol e da alegria por
sediarmos uma Copa do Mundo. Assim, está transformando em um evento de
sucesso algo que tinha tudo para dar errado. A recepção calorosa aos
estrangeiros, a ausência de brigas e violência nos estádios e nas ruas, o
tratamento cordial às delegações de outros países e o bom atendimento a
todos no comércio e nos serviços estão fazendo um contraponto à imagem
inicial negativa da competição, gerada pela falta de planejamento, obras
atrasadas, alguns custos mal-explicados e promessas não cumpridas.
As redes sociais de todo o mundo têm ressaltado e elogiado esses
virtudes de nossa gente. Com essa atitude positiva, o povo tem dado uma
demonstração de maturidade política, deixando claro que a brasilidade, o
patriotismo sempre estimulado pelas copas do mundo e o civismo devem
prevalecer. Isso significa dar o melhor de cada um de nós para que o
mundo nos veja com bons olhos e até reverta o olhar crítico e cético que
permeou a organização da Copa do Mundo desde que a FIFA oficializou a
sua realização no Brasil, há sete anos.
Em todo o País, parece haver uma disposição popular espontânea de que a
tradição de bons anfitriões dos brasileiros contribua para reverter a
imagem negativa inicial da Copa de 2014. O mais interessante, porém, é
que o brasileiro está demonstrando seu espírito fraterno, solidário e
pluralista, mas externando, de maneira firme, que não vê a competição
como um fator político. Ganhar ou vencer dentro dos gramados não terá
influência no voto.
Essa posição lúcida está muito clara nos estádios, nas ruas, nas redes
sociais e nos depoimentos à mídia. Excetuando-se os palavrões dirigidos
por algumas pessoas à presidente Dilma Rousseff no jogo de estreia do
Brasil e atos de vandalismo nas ruas, atitudes não adequadas, é animador
observar que o brasileiro deu mais um passo no sentido do
aperfeiçoamento da democracia, reivindicando, protestando de modo cívico
e externando seus anseios.
Foi-se o tempo em que ganhar ou perder uma copa do mundo tinha o poder
de influenciar eleições. Enganam-se aqueles que ainda acreditam ser
possível comprar a consciência das pessoas com camisetas, clientelismo,
paternalismo, cestas básicas e circo. Os brasileiros querem mais, muito
mais! Almejam um governo honesto, eficaz na gestão, sensível perante as
prioridades da população e capaz de restabelecer um fluxo consistente de
crescimento econômico, geração de empregos, investimento e
credibilidade global.
A Copa do Mundo de 2014 evidencia que somos capazes de virar o jogo!
Temos força e capacidade para fazer isso não só com relação à imagem
internacional do Brasil, como no tocante aos gols contra que temos
tomado na economia, na administração pública, na burocracia, na perda de
competitividade da indústria, na queda de confiança dos investidores e
nas incertezas que afligem o País.
*Levi Ceregato, empresário, bacharel em Direito e Administração, é o
presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf
Nacional).
Fonte: Assessoria de Imprensa
Tags: Abigraf, mercado
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